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'Carcinoma espinocelular'

Brasil registra 1º caso de câncer de mama raro ligado ao implante de silicone

Paciente jovem tinha silicone de longo prazo, com queixa de aumento acentuado no volume de uma das mamas e dor; médico pede atenção de especialistas a quadros suspeitos

Saúde | 15 de Agosto de 2025 as 12h 11min
Fonte: O Globo

Foto: Divulgação

O Brasil registrou o primeiro caso de câncer de mama associado ao silicone, conhecido como carcinoma espinocelular associado ao implante mamário de silicone (BIA-SCC, na sigla em inglês). O caso foi descrito em um estudo coordenado pelo mastologista Idam de Oliveira Junior, sócio titular da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e coordenador do Departamento de Mastologia e Reconstrução Mamária do Hospital de Amor, em Barretos (SP), publicado na revista científica Annals of Surgical Oncology (ASO).

Trata-se de uma jovem que tinha implante de silicone, de longo prazo, com finalidade estética. Ela se queixava de aumento acentuado no volume de uma das mamas e dor. Inicialmente, a recomendação foi trocar a prótese e retirar a cápsula que a revestia, devido à presença de seroma (líquido ao redor da prótese) tardio.

No entanto, após o procedimento, constatou-se que a cápsula apresentava sinais incomuns e foi encaminhada para a biópsia, que evidenciou a malignidade. Após esta etapa, a jovem foi submetida à retirada da prótese e mastectomia, cirurgia para remover total ou parcialmente a mama.

"Mas devido à lesão avançada, houve recidiva de forma precoce e agressiva", conta Oliveira Junior, em comunicado. A partir do diagnóstico, a paciente teve uma sobrevida de 10 meses.

Em casos avançados, a doença pode se espalhar para órgãos distantes como pulmões, fígado e mediastino, através da corrente sanguínea ou linfática. A disseminação local e regional é comum.

Apesar do caso, o especialista afirma que os implantes mamários de silicone "são seguros e eficazes tanto para fins estéticos, quanto para a reconstrução das mamas” e que o caso brasileiro não é motivo para alarde. Muito pelo contrário, ressalta, trata-se de uma situação muito rara, mas que requer atenção dos especialistas.

"A cada ano, temos mais mulheres vivendo por longo tempo com próteses de silicone. Neste sentido, é importante que qualquer alteração apresentada nos implantes seja considerada e investigada", diz o médico, em comunicado da SBM.

A investigação do caso brasileiro se diferencia de outras na literatura também por apresentar uma forma de padronizar o estadiamento e o tratamento da doença. O estadiamento avalia o grau de disseminação do câncer a partir de regras internacionalmente estabelecidas. O estadio de um tumor reflete não apenas a taxa de crescimento e a extensão da doença, mas também o tipo e a relação com a sobrevida.

Com base na literatura científica sobre outros casos descritos, o especialista da SBM e sua equipe buscaram informações para entender o comportamento da doença.

"A partir de estudos e de conceitos do estadiamento do linfoma associado à prótese de silicone, desenvolvemos um estadiamento para o carcinoma espinocelular, também com atenção ao implante mamário, correlacionando a sobrevida das pacientes", explica.

Conforme a publicação, o BIA-SCC parece estar relacionado a um processo crônico de irritação e inflamação da cápsula que envolve o implante mamário. Com o tempo, essa irritação pode levar a alterações celulares, como metaplasia e displasia escamosa, que eventualmente evoluem para carcinoma espinocelular. Fatores como o uso prolongado de implantes (geralmente por mais de 10 anos) e a presença de líquido ao redor do implante podem contribuir para o desenvolvimento do tumor.

Embora considere a raridade da ocorrência de carcinoma espinocelular associado a implante mamário, o mastologista reforça entre os especialistas a necessidade de exames completos e precisos, especialmente diante de seroma de início tardio.

"Como demonstramos no estudo publicado na ASO, estamos diante de uma doença de comportamento agressivo. O diagnóstico precoce permite um tratamento mais eficiente com maior sobrevida para a paciente", destaca.

Os procedimentos com implantes mamários de silicone vêm sendo amplamente realizados desde a década de 1960. De acordo com o mastologista, vêm crescendo nos últimos anos as evidências da associação entre implantes de silicone e efeitos imunológicos e inflamatórios que poderiam desencadear neoplasias como o linfoma anaplásico de grandes células associado a implantes mamários (BIA-ALCL, na sigla em inglês) e a síndrome autoinflamatória induzida por adjuvantes (ASIA, na sigla em inglês).

O carcinoma espinocelular associado ao implante mamário de silicone (BIA-SCC, na sigla em inglês) foi descrito pela primeira vez na literatura médica em 1992. De acordo com a literatura científica, as ocorrências ao redor do mundo são poucas, com pouco mais de 20 pacientes diagnosticadas.

"Devido ao número limitado de ocorrências, os fatores de risco para o desenvolvimento deste tipo de tumor altamente agressivo, com prognóstico desfavorável, são desconhecidos", observa Oliveira Junior.

Recentemente, a agência norte-americana Food and Drug Administration (FDA) lançou um alerta sobre a ocorrência de casos de carcinoma de células escamosas associado a implantes mamários (BIA-SCC).