Frota perdida
Empresa em crise ‘toma’ caminhões da Inpasa
Justiça já determinou a busca e apreensão para que veículos da usina sejam recuperados
Geral | 29 de Outubro de 2025 as 17h 37min
Fonte: Jamerson Miléski

A maior produtora de etanol combustível de grãos do mundo teve 40 veículos da sua frota “tomados” por uma empresa que está em recuperação judicial. Caminhões e carretas-tanque que deveriam estar transportando o combustível produzido pela Inpasa estão “perdidos”, em posse de uma empresa de logística, com os rastreadores desligados e sob risco de serem desencaminhados para o Paraguai. Há mais de 4 meses a usina tenta recuperar seus veículos através da Justiça.
O imbróglio começou em março de 2022, quando a Inpasa firmou um contrato de locação e opção de compra com a D&D Logística e Transporte – mais conhecida como Grupo D&D, gigante do setor, com sedes em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná. O contrato previa a locação dos caminhões da Inpasa para a D&D, que como forma de pagamento faria uma quantidade mínima de fretes para a usina. Qualquer transporte extra, entraria como o “lucro” operacional da D&D. No final, a transportadora teria a opção de comprar os veículos.
A frota era composta por 20 cavalos mecânicos Iveco 6x4 e mais 20 reboques tanques das marcas Randon e Biasi, novos para época, com modelos 2021 e 2022. Nos dois primeiros anos de contrato, tudo transcorreu conforme o combinado, sem intercorrências. Em 2024 a D&D entra com um pedido de Recuperação Judicial, abrindo suas contas para Justiça e pedindo blindagem dos credores para não quebrar. Na relação de dívidas, o Grupo D&D inclui a Inpasa, declarando que devia R$ 43,5 milhões à usina. O valor correspondia aos créditos do contrato.
O pedido de Recuperação Judicial correu pelo Tribunal de Justiça do Paraná. A Inpasa ingressou com um pedido para ser retirada da lista de credores da D&D, argumentando que o contrato de locação não tinha correlação com as dívidas da empresa. Foi a primeira tentativa da usina de “resgatar” seu patrimônio, tirando os caminhões da lista de patrimônio da D&D. Nesse momento as duas empresas já estavam discutindo na justiça se o contrato de locação era abusivo ou não.
Os caminhões estavam equipados com rastreadores que vinham de fábrica. Entre março e abril desse ano, conforme relatou no processo judicial, a Inpasa percebe que alguns dos rastreadores dos seus caminhões locados estavam sendo desligados. No mesmo momento a usina relata que a D&D não estava entregando o mínimo de fretes acordados no contrato. A Inpasa então pede para que o contrato seja extinto e seus caminhões devolvidos.
Todo processo dessa disputa entre Inpasa e D&D corre na 2ª Vara Civil do Fórum da Comarca de Sinop, sob o número 1014795-92.2025.8.11.0015. Em junho desse ano, o juiz titular da vara, Cleber Zeferino de Paula, concede uma liminar em favor da Inpasa, determinando que a transportadora reativasse imediatamente os rastreadores e devolvesse os caminhões no prazo de 10 dias. O juiz aplicou uma multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento.
A decisão do magistrado não prejudicava uma eventual busca e apreensão. Mas também não fazia aparecer “magicamente” os caminhões no pátio da Inpasa. Em julho, a juíza Melissa de Lima Araújo, atuando em substituição na 2ª vara, julga um recurso que tira a urgência dessa captura dos caminhões. Em sua decisão a magistrada lembrou que em fevereiro o juízo da Recuperação Judicial prorrogou o ‘stay period’- que é o período de 180 dias de uma RJ em que todas as execuções e cobranças são suspensas. Então, até agosto qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e apreensão e constrição judicial ou extrajudicial sobre os bens da D&D estavam proibidas.
Agosto chegou e a Inpasa voltou a bater na porta do judiciário. Dessa vez o processo caiu na mão de Mirko Vicenzo Giannotte, que substituía Zeferino de Paula. Giannotte manda a D&D cumprir a liminar anterior, de ligar os rastreadores e devolver os caminhões. Com a informação de que “o juízo recuperacional entendeu prudente manter o reconhecimento da essencialidade dos bens, mantendo a proibição de constrição, até posterior deliberação após a Assembleia Geral de Credores”, o magistrado aumentou a multa diária para R$ 50 mil.
A decisão de Gianotte ainda expedia os mandados de busca e apreensão dos veículos. “Para tanto, fica autorizado seu cumprimento em qualquer localidade em que os veículos forem encontrados, com auxílio de força policial, se necessário”, redigiu o juiz, que determinou ainda a inserção de restrição de circulação dos veículos no sistema RENAJUD.
Sem conseguir resgatar seus caminhões, a Inpasa volta bater na porta do judiciário. Em setembro a usina pede para que a PRF (Polícia Rodoviária Federal) fosse acionada para reter os veículos caso passasse por qualquer um dos postos de operação da corporação. O pleito foi julgado por Zeferino de Paula, que refreou a situação e trouxe o assunto para o nível de gravidade que de fato tem. O magistrado negou o pedido da Inpasa, afirmando, em outras palavras, que a razão da PRF existir é fazer a segurança nacional nas rodovias, não ser “caçador de recompensas” dessa ou daquela empresa. “Notadamente porque o uso do aparato e/ou estrutura das autoridades públicas não se tem como finalidade de satisfazer interesses puramente privados ou de instrução processual cível, sob pena de desvio de finalidade e de oneração indevida do aparato estatal”, relatou Zeferino de Paula em sua decisão.
Na última interpelação, apresentada pelos seus advogados, a Inpasa narra que “os caminhões vêm sendo ocultados e descaracterizados, em evidente manobra para impedir sua identificação”. Na inicial, os advogados da usina trazem informações de dois caminhões que ainda estariam com os rastreadores ativos, circulando na região próxima à fronteira do Paraná com o Paraguai. “De forma ainda mais grave, há notícias de que os réus estão conduzindo os veículos até a região de fronteira, com a intenção de atravessá-los para o Paraguai — conduta que, se consumada, frustrará de modo irreversível a execução da ordem de busca e apreensão no território nacional”, relatou a defensa da Inpasa em sua petição.
Ao apresentar esses novos fatos a usina tentou convencer o poder judiciário de que estava na eminência de perder seus bens. Por isso, voltou a pedir que a Polícia Rodoviária Federal fosse oficiada com a relação dos veículos para proceder com a retenção imediata. O pleito dessa vez foi estendido também à Polícia Federal e a Receita Federal. Como se não bastasse os 3 órgãos públicos à caça dos caminhões da Inpasa, os advogados da usina ainda pediram “expedição de carta rogatória ao Paraguai”, “a fim de que as autoridades locais sejam instadas a apreender os caminhões caso tentem ingressar em seu território ou, se já houver ingressado, para que sejam retidos e restituídos à autora”.
Zeferino de Paula julgou o pedido, em decisão publicada na última sexta-feira (24). “No que tange aos pedidos consistentes em expedição de ofício à Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal e Receita Federal do Brasil, estes não merecem acolhimento, porquanto já houve deliberação nesse ponto. Em que pese à exaustiva argumentação, não é possível que este juízo decida de novo qualquer questão que já tenha sido objeto de decisão anterior”, relata trecho da decisão.
O magistrado também achou desmedido o pleito para notificar as autoridades paraguaias. “uso do aparato e/ou estrutura das autoridades públicas não se tem como finalidade de satisfazer interesses puramente privados”, pontuou.
Apesar das negativas, a mais recente decisão de Zeferino de Paula não “livra” a D&D de devolver os veículos. O magistrado determinou que decisão da busca e apreensão dos veículos “sirva como ofício”, autorizando também seu cumprimento em regime de plantão judiciário. Isso permitirá que a Inpasa retome seus caminhões no momento em que localizá-los.
Notícias dos Poderes
Mulher morre após ter sido 'esquecida' por navio de cruzeiro em ilha da Austrália
A tripulação do Coral Adventurer só percebeu que a australiana de 80 anos não havia voltado ao navio horas depois de zarpar da ilha Lizard, na Grande Barreira de Corais
30 de Outubro de 2025 as 07h00Sérgio Ricardo é eleito Personalidade do Ano por atuação em defesa do desenvolvimento de MT
Atuação propositiva do presidente do TCE-MT é destaque em premiação estadual
29 de Outubro de 2025 as 17h16Acidente grave interdita BR-163 em Sinop
Uma pessoa fica presa às ferragens
29 de Outubro de 2025 as 17h09Sema e PJC integram força-tarefa de combate ao tráfico de animais silvestres
A força-tarefa é composta por Ministérios Públicos, Polícias Ambientais e órgãos de fiscalização de 11 estados brasileiros
29 de Outubro de 2025 as 16h24Motorista morre e dois ficam feridos em colisão entre Gol e caminhão
Batida frontal ocorreu na madrugada desta quarta-feira; motorista do Gol morreu no local.
29 de Outubro de 2025 as 14h59Calor já mata meio milhão de pessoas por ano, alertam cientistas
Pesquisadores apontam que mudanças climáticas ameaçam vidas
29 de Outubro de 2025 as 15h21Último dia para pagamento da parcela de outubro do IPVA é nesta sexta-feira (31)
Atraso pode gerar cobranças adicionais e comprometer o parcelamento
29 de Outubro de 2025 as 14h01