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Vendas de sentenças

Advogado morto em Cuiabá sacou R$ 8,2 milhões para compra de sentenças, revela PF

Geral | 27 de Maio de 2025 as 09h 39min
Fonte: UOL

Foto: Divulgação

 A investigação da Polícia Federal sobre um esquema de corrupção envolvendo assessores do STJ (Superior Tribunal de Justiça) avança sobre as estratégias usadas pelos investigados para lavagem de dinheiro e pagamentos de propina a funcionários públicos dos tribunais.

Um dos métodos usados pelo grupo do lobista Andreson de Oliveira Gonçalves e do advogado Roberto Zampieri, assassinado no final de 2023 em Cuiabá, foi a entrega de dinheiro vivo, de acordo com a Polícia Federal. A PF rastreou saques milionários dos investigados nos últimos anos e até mensagens que, de acordo com a investigação, indicam a entrega de valores em espécie para esses assessores.

A investigação teve início no fim do ano passado, depois que o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) identificou mensagens no celular do advogado assassinado que indicavam o acesso antecipado a minutas de decisões do STJ. A partir disso, a PF passou a investigar suspeitas de que assessores dos ministros passavam informações sigilosas para Andreson e Zampieri.

Após análise pericial, a PF conseguiu extrair novos diálogos do celular de Zampieri que apontaram novas suspeitas. Em uma conversa inédita, Zampieri diz a um interlocutor ter transportado uma "encomenda" para entregar a um chefe de gabinete de um ministro, ainda não identificado. Para a PF, essa seria uma referência à entrega de dinheiro vivo.

"Vim conversar com o chefe de gabinete do ministro, tive que vir de carro para trazer uma encomenda dele", escreveu Zampieri em uma mensagem de WhatsApp, enviada em 9 de setembro de 2023.

Em uma outra conversa, Zampieri diz a um interlocutor que o procura para tratar de um processo no STJ: "Vocês têm que preparar uns 20 milhões pra investir lá em cima, e aí resolve. Caso contrário é perigoso". 

De acordo com informações do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), Zampieri sacou R$ 8,2 milhões em dinheiro vivo entre setembro de 2019 e março de 2022.

"Com o aprofundamento das apurações, especialmente em razão da análise mais aprofundada dos dados financeiros disponíveis, a Polícia Federal identificou a existência de uma sofisticada rede financeira-empresarial de lavagem de dinheiro, estruturada no intuito de dissimular os pagamentos das 'propinas' para a corrupção das decisões judiciais, fazendo romper, efetivamente, qualquer vinculação direta entre o agente corruptor e o servidor público corrupto", escreveu a Polícia Federal em relatório enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal). 

O lobista e empresário Andreson de Oliveira Gonçalves

Para a PF, outros repasses em dinheiro vivo eram feitos por um funcionário de Andreson, o auxiliar de serviços gerais João Batista. Ele recebeu R$ 2,6 milhões em suas contas bancárias entre 2019 e 2023 e fez saques totalizando cerca de R$ 800 mil entre 2020 e 2021. Por isso, a PF mirou João Batista na busca e apreensão deflagrada na semana passada, mas ele não foi localizado. Foram bloqueados R$ 2,6 milhões de suas contas.

Procurada, a defesa de Andreson afirmou que ainda analisa os autos do processo. Seu funcionário João Batista não foi localizado para se manifestar.

Boletos falsos e doleiro

A investigação da Polícia Federal também analisa outros métodos de lavagem de dinheiro e repasse de propinas. A PF já detectou, por exemplo, diálogos mostrando que Roberto Zampieri usava os serviços de um doleiro sediado em São Paulo.

Além disso, há suspeitas de que os investigados geravam boletos falsos, com objetivo de dissimular pagamentos de propina, e aliavam esse método a uma compensação financeira de cartões de crédito por meio de faturas falsas.

O advogado Roberto Zampieri, assassinado em Cuiabá, em dezembro de 2023

A PF tenta rastrear se essas operações financeiras coincidem com o pagamento de despesas pessoais por assessores do STJ que estão na mira das investigações.

Como revelou o UOL, a PF também encontrou repasses de R$ 4 milhões da empresa do lobista Andreson a uma empresa aberta em nome da esposa de Márcio Toledo Pinto, assessor do STJ que trabalhou nos gabinetes das ministras da corte Isabel Gallotti e Nancy Andrighi. Para a PF, seria um dos métodos do pagamento de propina do grupo.

A defesa de Márcio Toledo Pinto não respondeu aos contatos do UOL ontem. Gallotti e Andrighi informam que não se manifestam sobre fatos e comportamentos de terceiros investigados pelo Supremo Tribunal Federal.

A assessoria do STJ também não comentou o caso. Em manifestação anterior, o tribunal informou ter aberto procedimentos internos de investigação -além de ter enviado o caso para a PF. Nenhum ministro do STJ é investigado